quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

~.



Pergunta-te. Questiona-te, depois de limpares o rimel esborratado dos olhos e te assoares, como é que raio Gonçalo sabes essas merdas todas? Como é que sabes sobre as torradas da manhã, e o jantar de logo à noite? Como é que sabes sobre o banal e o vulgar dos dias? Sobre o calor e o vazio? O simples acto de te colocar o guardanapo do lado certo do prato ou não saber onde descalcei os sapatos ontem?
Porque aquilo que tu não sabes, é que a psicologia de mesa de cabeceira não é mais que um retrato. E aquilo que tu não vês, é que a prescrição que atribuo a cada paciente, é aquela que nunca terei para mim. A psicologia de mesa de cabeceira, sabes, é um fenómeno bem bonito. Porque a conheço tão bem. Conheço-lhe tão bem as [entre]linhas, que não me serve. É minha.

O que eu te quero dizer no fundo, é que o dom da palavra que tanto estimas e te faz cair as lágrimas, é muito bonito da boca para fora. Da boca para dentro, minha cara, é um castelo de cartas ao vento, e eu, o rapaz que segura pilares, estou tão ou mais fodido do que tu.