quarta-feira, 16 de junho de 2010

sobre a cama de ferro que chia




Pousados e algo frágeis, cantam orquestras atonais de sinfonias grotescas. Caminham suavemente, um atrás do outro. Primeiro ela, depois ele. Ele solta onomatopeias roucas como que num ritual de encantamento e precedendo um movimento meticuloso de aninhamento no seu ombro, ele dança sublime sobre si próprio, fascinante. E onde outrora pueril, habitava o sabor de si sobre um monte de feno enrolado no prado, agora vem o cheiro a sabão da roupa lavada a secar no estendal, ao vento. Canta sobe um fundo mareado. Marmoreado. Marcado pelo ritmo ondulante do alcatrão que desce até à praia deserta e rochosa. Ele não sabe dela amanhã. Sabem a sinfonia dos pássaros que voam para lá do horizonte, que se escondem atrás do mar, entre o odor a pinho e o sal na pele. E isso basta. Cantam juntos uma canção que nem eles sabem. Que não sabem traduzir ou escrever. São.



terça-feira, 8 de junho de 2010