Pousados e algo frágeis, cantam orquestras atonais de sinfonias grotescas. Caminham suavemente, um atrás do outro. Primeiro ela, depois ele. Ele solta onomatopeias roucas como que num ritual de encantamento e precedendo um movimento meticuloso de aninhamento no seu ombro, ele dança sublime sobre si próprio, fascinante. E onde outrora pueril, habitava o sabor de si sobre um monte de feno enrolado no prado, agora vem o cheiro a sabão da roupa lavada a secar no estendal, ao vento. Canta sobe um fundo mareado. Marmoreado. Marcado pelo ritmo ondulante do alcatrão que desce até à praia deserta e rochosa. Ele não sabe dela amanhã. Sabem a sinfonia dos pássaros que voam para lá do horizonte, que se escondem atrás do mar, entre o odor a pinho e o sal na pele. E isso basta. Cantam juntos uma canção que nem eles sabem. Que não sabem traduzir ou escrever. São.
2 comentários:
meses e meses sem saber sobre que pele deixar a cicatriz - fica agora aqui. nem a beleza escapa das feridas
(prometido e finalmente cumprido)
gosto. bonito apontamento. é bom ter-te por cá. *
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