quinta-feira, 14 de novembro de 2024



uma lasca encravada
a minha ânsia tem o teu cheiro na ponta dos dedos e o sabor da tua pele
como quem esgravata debaixo da pele e a rasga até fazer sangue
na tentativa de remendar uma nódoa com um buraco
até se ver o osso
criei um monstro

dizia o Álvaro que a ânsia é um ramo partido

cavar um buraco dentro dele
até não haver mais fundo

água salgada, em lençol
mergulhado dos pés até à boca

sede insaciável
e tudo à minha volta é água

a minha ânsia é um quarto escuro, silêncio, vazio
uma criança que não distingue a realidade de um pesadelo


e tal como todas as ânsias, somos elefantes na sala
ilusões fabricadas de medos e traumas
basta-nos a palavra e desfazemo-nos como pó
dentes de leão
no teu pescoço.

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