uma lasca encravada
a minha ânsia tem o teu cheiro na ponta dos dedos e o sabor da tua pele
como quem a esgravata e a rasga até fazer sangue
na tentativa de remendar uma nódoa com um buraco
até se ver o osso
criei um monstro
dizia o Álvaro que a ânsia é um ramo partido
cavar um buraco dentro dele
até não haver mais fundo
água salgada, em lençol
mergulhado dos pés até à boca
tua
sede insaciável
e tudo à minha volta é água
a minha ânsia é um quarto escuro, silêncio, vazio
uma criança que não distingue a realidade do pesadelo
e tal como todas as ânsias, somos elefantes na sala
ilusões fabricadas de medos e traumas
basta-nos a palavra e desfazemo-nos como pó
dentes de leão
no teu pescoço.