Quem me conhece sabe que o elemento fulcral do meu trabalho e o elemento com que maioritariamente me relaciono é o 'Tempo'. A duração das coisas, a intensidade com que se nos atravessam o corpo ou a mente, o impacto que tem em nós e aquilo que nos provoca e nos transforma. O Tempo. É por isso que a minha ferramenta de trabalho é o fogo. Um acto performativo e aleatório em que soltamos um demónio ao chão e o observamos atentamente desenhar-nos a sua essência e influência, todo esse processo de tempo, em que o fogo reage sobre uma superfície e deixa aquela marca, como que uma cicatriz que revela a ferida que sentimos dentro do peito.
Na minha relação com o tempo, existe um outro processo, este de cariz mental, de associar imagens a peças sonoras. É inevitável para mim, como que se as imagens, ainda que estáticas, possuíssem uma ambiencia que se pode relacionar directamente com determinadas melodias, ou frases, refrões. Para mim as imagens nunca são objectos estáticos. Muito pelo contrário. São um arsenal de emoções que ocorrem na minha cabeça através daquilo que os meus olhos vêem. E essas emoções tendo uma duração, ora mais lenta, ora mais longa, são assim todo um ensaio a decorrer, carregado de acções, movimentos, sentimentos ou sons, que as traduzem e as definem da forma que melhor entendo.