sábado, 29 de outubro de 2011






"Não te preocupes. Eu gosto do odor das pessoas quando acordam. Tenho gostos esquisitos, sim, mas não te assustes." - Disse ela. 
Inevitável, contudo. A primeira coisa que me veio à cabeça foi o Império dos Sentidos.










terça-feira, 18 de outubro de 2011

Do baú.



O interior da minha boca é feito do que me envolve e tem sabor a ferro. Lá dentro está todo o universo dos meus desejos de mão dada com o que temo. Tenho pêlos nas nuvens do céu-da-boca e Outono com açúcar baunilhado debaixo da língua, enquanto me escorre água ferrugenta pela garganta.
Os meus dedos, árvores numa planície alentejana, inertes e solitários, sentem o pousar dos pássaros e imóveis aconchegam-lhes o ninho com inveja. São pesados, carregados pelas chuvas intensas de inverno. São madeira velha a apodrecer dia após dia ao relento. Ao acordar são os meus olhos, duas ostras perdidas num oceano de dúvidas e sal. São um fim de tarde quente de Agosto e ao anoitecer é o olfacto de uma cidade cosmopolita. O cheiro a alcatrão e suor, e humidade primaveril.
Em todo o tempo é o limite entre o silêncio e o ruído. É o meu silêncio por oposição ao ruído do movimento desse mundo que vive aqui ao lado. É o meu ruído existencial interior, que vive incessante e ansioso face ao silêncio do universo. Em todo o lado, a toda a hora, são esses extremos a confundir-se, e depois é o coração. Esse órgão de todos os sentidos que carrega consigo todas as estações do ano e todas as outras mais que só ele conhece. É todos os sentidos de antenas no ar, um coração com pêlos e todas as fases da lua. É o orvalho da manhã numa chapa queimada pelas marcas que lhe deram vida. É o frio e o quente, o vento e o silêncio, a cidade e o sabor a cappuccino com canela, de mãos dadas a deslumbrar constelações.


(não apontei a data em que escrevi isto.)


quarta-feira, 12 de outubro de 2011






52.
Amar Silencioso porque não há alternativa.No dia do Ruido o dia da Queda.
O meu Coração, afinal: um orgão!



Gonçalo M. Tavares in Investigações Novalis


terça-feira, 11 de outubro de 2011



dormir é apenas isto:
o instante em que na memória há um espelho
de palavras que se repetem
vem isto a propósito de sentir a insónia interrompida
o sono sobressai a tua ausência
mas tu entras sem avisar
como se assim garantisses
cada pedaço de não te ter
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©acoldzero


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

a propósito das distâncias




She was extending a hand that I didn’t know how to take, so I broke its fingers with my silence.
Jonathan Safran Foer