Em cima do monte (de vénus) ao fundo da paisagem, entre os ténues e sublimes raios de sol que erradiam por entre as nuvens de algodão doce que pairam sobre o céu (da boca), jaz a clepsidra que marca compassadamente o ritmo da ausência acompanhada do odor das magnólias cor-de-rosa que florescem primaveris junto ao caudal do rio que passa. Os melros sobrepõem-se à tua voz e parecem criar uma nova linguagem sobre as tuas palavras, atribuindo-te um discurso dislexico e sem nexo feito de onomatopeias de penas caídas.
Trémulo, deslizo o meu pensamento sobre ti e dispo-te como se tivesse decorado cada linha do teu corpo, mesmo sem nunca te ter visto. Deitada sobre folhas de cerejeira caídas num vale algures no oriente, observo-te, tal qual Danae de Klimt, e atrás do meu manto de oiro, voyeur, sinto-me, perdido e não achado, à espera de ser encontrado. Sou quem nunca fui e por isso permaneço encerrado, no escuro, à espera que se abra a fenda para entrar, e no momento certo, com meu manto de oiro cobrir-te.