quinta-feira, 18 de março de 2010

Em cima do monte (de vénus) ao fundo da paisagem, entre os ténues e sublimes raios de sol que erradiam por entre as nuvens de algodão doce que pairam sobre o céu (da boca), jaz a clepsidra que marca compassadamente o ritmo da ausência acompanhada do odor das magnólias cor-de-rosa que florescem primaveris junto ao caudal do rio que passa. Os melros sobrepõem-se à tua voz e parecem criar uma nova linguagem sobre as tuas palavras, atribuindo-te um discurso dislexico e sem nexo feito de onomatopeias de penas caídas.
Trémulo, deslizo o meu pensamento sobre ti e dispo-te como se tivesse decorado cada linha do teu corpo, mesmo sem nunca te ter visto. Deitada sobre folhas de cerejeira caídas num vale algures no oriente, observo-te, tal qual Danae de Klimt, e atrás do meu manto de oiro, voyeur, sinto-me, perdido e não achado, à espera de ser encontrado. Sou quem nunca fui e por isso permaneço encerrado, no escuro, à espera que se abra a fenda para entrar, e no momento certo, com meu manto de oiro cobrir-te.




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4 comentários:

mariana, a miserável disse...

gosto do texto..adoro a fotografia

Inês Ferreira disse...

Que texto tão bonito!

Inês Ferreira disse...

Humm, eu não sei onde é a ponte: é algures entre Aveiro e Lisboa. E obrigada pelas palavras, embora não creio que se adequem à minha situação.

gonçal∅ incendiàrio disse...

hmmm. entre aveiro e lisboa ainda é um bocado grande... pode ser muito sitio. mas faz-me lembrar a leziria. algures entre o entroncamento e santarem.. será?
em relação às palavras, foi só uma ideia que surgiu. *